As imagens na internet podem ser assustadoras e a preparação antes da partida também sugere que o percurso é perigoso. Porém, até a Marta, a minha irmã de 15 anos, fez o passeio a brincar. O caminho do rei, ou Caminito del Rey no original, é um troço de terreno que se percorre por entre desfiladeiros, vales e montes entre Ardales e El Chorro, no sul de Espanha. Tem cerca de sete quilómetros de extensão, três dos quais em passadiços pendurados nos estreitos rochosos. Serviu, entre 1905 e 1921, para o transporte de trabalhadores e materiais durante a construção da barragem de Conde del Guadalhorce. Na inauguração do empreendimento, o rei Afonso XIII completou todo trajeto e daí o nome. As centenas de famílias alojadas na região acabaram depois por usar o trilho como ligação entre as diversas povoações. Crianças brincavam, cabras procuravam melhores pastos, mães iam às compras e maridos para o trabalho. Cada passo que davam, enfraqueciam o betão, desgastavam as pedras marcavam os dias. A chuva esculpiu buracos cada vez maiores no cimento e os pilares de ferro enferrujaram com o sabor das primaveras. E depois surgiram estradas melhores, automóveis velozes e o comboio furou a montanha de um lado ao outro. O silêncio passou a ser quebrado apenas por turistas aventureiros. Em 1999 e 2000 morreram quatro e o Governo decidiu encerrá-lo ainda que alguns mais destemidos arriscassem escalar a pedra à revelia das autoridades. Em 2011, Andaluzia e Málaga juntaram-se para dividir os custos de restauração e, em março de 2015, o caminho do rei reabriu ao público. Agora com mais regras de segurança, capacetes, guia obrigatório e uma entrada que custa sete euros. Foi considerada uma das atrações mais surpreendentes do ano pelo guia turístico Lonely Planet e estrangeiros começaram as chegar a rodos. Para ir até lá é necessária reserva e o sítio oficial tem quase sempre dias esgotados. É necessário, portanto, alguma antecedência. Ou então, procurar agências de turismo que vendam pacotes com estadia e o passeio incluído. Foi o que fiz. E lá estava eu, no dia marcado, com a minha Marta ao lado, mochila às costas, garrafas de água na mãe, preparados para uma bela caminhada. Ela só não queria repetir a façanha da Madeira (ver textoaqui). Mas o grau de inclinação é mínimo e todo o percurso faz-se em cerca de três horas quase em linha reta. Para regressar ao ponto de partida é necessário voltar a pé, num dos autocarros que fazem a viagem ou ter viatura à espera.
É, sem dúvida, uma visita que vale a pena e
perfeitamente segura com um grau de dificuldades baixo. O desfiladeiro de
Ardales acampanha-nos em quase toda a viagem e por isso estamos sempre protegidos
pela sombra. As vozes humanas são projetadas de encontro às paredes milenares,
ecoando pelo ar. Por vezes, o comboio vê-se ao fundo, um símbolo do progresso a
puxar-nos à realidade. As águas correm lá em baixo e o som faz vibrar o vento,
tornando-o fresco e apetecível. É fascinante ver em determinados troços a
antiga estrutura teimosamente colada à pedra, lembrando um passado de quase 100
anos de viagens, entre um lado e o outro da montanha. “Pode parecer incrível,
mas ninguém aqui morreu”, assevera o guia. “Durante décadas, crianças brincaram
aqui, pastores guiavam os animais e famílias inteiras transportaram as suas
compras e nunca houve um único acidente, com a exceção para os turistas recentemente”.
O desfiladeiro permanece imutável, testemunha do tempo e da coragem do ser
humano. Nas suas paredes está gravada uma história de desafios, com as águias
lá no alto a protegerem esta muralha da Natureza que foi vencida pelo Homem.
The pictures on the internet can be frightening and preparation before departure also suggests that the route is dangerous. However, to Martha, my 15 years old sister the tour was a play. The path of the king, or Caminito del Rey in the original, is a stretch of land that runs through canyons, valleys and hills between Ardales and El Chorro, in southern Spain. Has about four miles long, two of them in hanging bridges on the rocky straits. It served between 1905 and 1921 to transport workers and materials during the construction of the Conde de Guadalhorce dam. At the inauguration of the enterprise, King Alfonso XIII completed the entire path and hence the name. Hundreds of families housed in the area used to route as a link between the various villages. Children played, goats sought better pastures, mothers went shopping and husbands to work. Each step they took weakened the concrete and wore the stones, each step marking each of their lives. The rain carved holes in the cement and rusted the iron pillars with the flavor of the springs. And then came the modern roads, fastest cars and the train carved the mountain side to side. After that, the silence broke only by adventurous tourists. In 1999 and 2000 four of them died and the government decided to shut it down, even if some bravest ventured to climb against the rules. In 2011, Andalusia and Malaga joined to split restoration costs and, in March 2015, the path of the king reopened to the public. Now, with more security rules, helmets, mandatory guide and entrance fee of seven euros. It was considered one of the most amazing attractions of the year by Lonely Planet and the foreigners began arriving in droves. To get there is necessary reserve and the officialwebsite has almost always sold out days. It is therefore necessary, to reserve in advance. Or, look for tour operators selling packages with accommodation and the tour included. It was what I did. And there I was, on the appointed day, with Marta beside me, water bottles in our hands, prepared for a beautiful walk. She just did not want to repeat the feat of Madeira (see text here). But the degree of slope is minimal and all the way it is done in about three hours, almost in straight line. To return to the starting point it is necessary to walk back, use one of the buses that make the round trip or have car waiting.
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