Jogos da Fome parte II

Não sou particularmente fã de livros de ficção científica. Gosto de ver filmes com efeitos visuais, porque o cinema, em parte, tem o dever de nos fazer sonhar. Porém, na leitura torço o nariz quando se trata de manuscritos com vidas extra terrestres, naves espaciais e viagens intergalácticas. Mas decidi sair da minha zona de conforto e ler este Alvorada Vermelha, de Pierce Brown, considerada, pela Amazon, como uma das melhores obras de 2014. Chegou a Portugal no ano seguinte e na livraria já está à venda o segundo exemplar desta triologia (nos EUA já saiu o último número). Para quem viu os Jogos da Fome, a ideia é quase, quase, a mesma, contudo, com um valente upgrade.

Quando vi os Jogos da Fome, achei a ideia meio disparatada: como pode uma sociedade achar graça a um concurso em que jovens se digladiam até se matarem? Qual o propósito? A ideia, claro, é questionar os valores de um mundo em mudança e os limites morais do Homem. Mas neste livro de Pierce Brown o conceito é levado ao limite mas com um twist. E há todo um novo universo de personagens, termos e novas palavras que criam uma realidade irreal aos nossos olhos, mas coerente na trama do livro. E isso é o que mais me atraiu na história.

Posso resumir a ideia, embora ela seja bem complexa. Basicamente, num futuro longínquo, uns mil anos talvez, Marte já está a ser colonizada pelo ser humano (e ao que parece outros planetas também), e nele vivem centenas de diferentes estratos sociais. Os dourados, o topo da hierarquia, os rosados e toda uma outra gama de cores, até aos vermelhos, os escravos, que vivem no interior, em minas, a retirar o hélio que, alegadamente, na superfície é necessário para terraformar Marte. O problema é que eles desconhecem que são mão de obra forçada. A mensagem que lhes é incutida é que o trabalho que fazem é para o bem da humanidade que, na Terra, está à beira do caos e asfixia atmosférica. Ensinados a manterem-se bem lá em baixo, desconhecem que já há oxigénio à superfície. Tudo o que lhes dizem é mentira. E um dos vermelhos, Darrow, descobre que há toda uma população que os está a enganar. A única forma é juntar-se aos dourados, ingressando numa escola onde eles aprendem as lides da guerra e da liderança, vencer todas as provas e chegar ao fim com o intuito de os minar por dentro, apoderar-se de uma nave e começar a revolta dos vermelhos, qual cavalo de Tróia. Parece uma ideia simples, no entanto, o universo criado pelo escritor é impressionante, chegando ao ponto de redefinir o conceito de raças, características sociais dos humanos, os sotaques de cada grupo, e por aí fora. Ou seja, Pierce Brown reinventou os seres humanos. Há, inclusive, os escultores, autênticos cirurgiões plásticos do século XXX (o livro não nos remete para qualquer data em concreto), que conseguem transformar por completo a aparência de alguém: colam músculos, mudam os olhos, a cor do cabelo, o tom de pele. É este processo pelo qual Darrow passa para que de vermelho ele se possa transformar em dourado. É que há diferenças de aparência em cada estirpe social, criando assim diferentes castas. O melhor é não me alongar senão revelo demasiado.

Sem dúvida que este é um bom livro para amantes do fantástico. Uma história incrível de morte, traição, que toca em temas muito atuais, como o racismo, a educação, os limites do ser humano, a arrogância dos povos, entre outros. Gostei muito e acho que vou devorar o segundo livro. Os direitos para o cinema já foram vendidos, como seria de esperar.

I am not particularly a fan of science fiction books. I like to watch movies with visual effects, because the cinema, in part, has the duty to make us dream with the beyond. However, when it comes to reading I tend to avoid books about extraterrestrial life, spaceships and intergalactic travels. But I decided to leave my comfort zone and read Pierce Brown’s Red Rising, considered by Amazon as one of the best works of 2014. The second part is already for sale and the third volume came out in the US. For those who love Hunger Games, the idea is almost, almost the same, however, with a big upgrade.
When I saw the first Hunger Games I thought the idea was preposterous: how can a society find amusement in a death contest in which young people battle with each other until they die? What is the purpose? The idea, of ​​course, is to question the values ​​of a changing world and the moral human limits. But in this Pierce Brown’s book the concept is pushed to the limit but with a great twist. There's a whole new universe of characters, words and concepts that he created that is unreal in our eyes, but consistent in the book plot. And that's what attracted me most in the history.
I can summarize the idea, although it is very complex. Basically, in the distant future, perhaps a thousand years from now, Mars is already colonized by humans (and apparently other planets too), and it is home to hundreds of different social strata. Golden, the top of the hierarchy, pink and a whole other range of colors, ‘till the red, in the bottom, who are the slaves, living inside Mars, in mines, who are removing helium to terraform Mars. The problem is that they are unaware they are hand forced labor. The message that is inculcated in their minds is that the work they do is for the good of humanity, whom, on Earth, is on the brink of chaos and atmospheric asphyxiation. Taught to remain well down there, they are unaware that there already is oxygen in the surface. All they are told is a lie. And one of the red, Darrow, finds that there is a whole population that is cheating on them. The only way is to join the golden, entering a school where they learn the labors of war and leadership, pass all the tests and get to the end in order to undermine the inside, seize a ship and start revolt of the red, like a Trojan horse. It seems like a simple idea, however, the universe created by the writer is impressive, to the point of redefining the concept of race, social characteristics of human, the accents of each group, and so on. In a way, Pierce Brown reinvents human beings. There are even the sculptors, authentic plastic surgeons of the XXX century (the book does not refer us any date in concrete), which can transform completely the appearance of someone: they stick muscles, change the eyes, hair color, tone of skin, and so on. It is this process by which Darrow goes so from red it can turn into gold. Because they have different looks. It is best not to reveal everything!
No doubt this is a good book for sci-fi lovers. An amazing story of death, betrayal, touching very current issues, such as racism, education, the limits of the human being, the arrogance of the nations, among others themes. I liked it a lot and I think I'll devour the second book. The rights to the film have been sold, as expected.