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“Já comecei a preparar o próximo disco”

“I’m already preparing the next record”



Cuca Roseta completa 34 anos a 2 de dezembro. É considerada uma das melhores fadistas da nova geração. Aplaudida pela crítica e com um público fiel além fronteiras, revela, numa entrevista que me concedeu recentemente, esta paixão que tem com o fado, as causas sociais que abraça e o momento em que se emocionou em palco.

António Dias: Como é que uma rapariga que fez parte de um coro na escola, ouviu música clássica e ópera em casa, foi vocalista numa banda pop portuguesa, curtiu rock entre amigos na juventude, acaba a trabalhar com um produtor de tango e a cantar fado?
Cuca Roseta: Bom, é esse percurso de vida que me faz acreditar que o destino queria mesmo trazer-me até aqui. Nada parecia apontar para o fado. Eu sempre gostei muito de histórias de encantar, de escrever, de olhar o mundo com uma perspetiva romântica e nostálgica, e quando ouvi fado pela primeira vez reconheci que este era o estilo musical no qual eu mais me revia. É quase uma forma de declamação cantada de poesia que traz à superfície sentimentos profundos de melancolia, saudade e amor. Quando cantava nos ‘Toranja’ a envolvência era diferente, havia outra preocupação. Mas, agora, fecho os olhos e o sentimento brota do meu âmago. As letras que canto transmitem algo muito íntimo e próximo da minha vivência, da minha verdade, por isso gosto muito de associar o fado à palavra verdade.

- Quando lançou o primeiro trabalho, com o Gustavo Santaolalla (vencedor de dois óscares), havia um plano bem traçado de conquistar novos mercados e, inclusive, ir a países onde nunca se tinha cantado o fado. A aposta foi ganha?
Sem dúvida! Na Geórgia, por exemplo. Foi uma experiência sensacional. Eles levantaram-se duas vezes num mesmo concerto para me ovacionar. Foi um dos poucos momentos em que me emocionei em palco. Eles admiram muito a nossa cultura, dizem que têm um tipo de música muito parecido com o nosso. No Equador aconteceu o mesmo. Lá, nem a Amália tinha ido! Não é incrível?

- Deve ser uma enorme responsabilidade ser tão nova e além de cantar algo tão profundo ainda ser representante da cultura portuguesa por sítios nunca antes cantados.
De facto é. Quase que somos embaixadores de Portugal. É do conhecimento generalizado que lá fora somos famosos pelo fado e futebol. Por isso, é importante ser uma dessas personalidades que vai a outros países levar um pouco da nossa cultura. E é extremamente gratificante ver a reação do público. Há quem comece a aprender português e a ter curiosidade pelo país porque um dia me ouviram cantar. É arrebatador.

- Encontra muita gente jovem nos concertos?
Sim, até crianças! O que é algo estranho, porque costuma-se dizer que é necessário alguma maturidade para entender o fado. Mas eu tenho famílias inteiras à minha frente e é emocionante vê-los a apreciar as minhas músicas, até porque as marchas acabam por introduzir um elemento alegre e divertido que os mais novos apreciam. Tenho mães que depois dos espectáculos vêm ter comigo e admitem que compram os meus discos a pedido dos próprios filhos.

- Isso é incrível, tendo em conta que há uma década o fado parecia quase morto!
É verdade. Eu faço parte dessa geração que nunca se interessou por este estilo. Onde eu cresci (Cascais) nunca se ouvia e quando comecei a frequentar casas de fado os meus amigos perguntavam-me se tinha ficado maluca. Havia um enorme preconceito. E graças aos novos fadistas, diferentes estilos de cada um e às boas músicas, o fado está a chegar às novas gerações. E isso é extremamente enternecedor.

- Já está a preparar o próximo álbum?
A maioria da minha energia está virada agora para a promoção deste último CD. Porém, já comecei a preparar algumas canções, a escrever e a reunir material. É um processo muito longo que demora quase dois anos e eu quero que o próximo trabalho seja ainda melhor que o anterior, mais maduro, e para isso é necessário pensar tudo com calma.

- Um dos sítios por onde vai passar é o Brasil.
Temos uma turné muito grande nos próximos meses. Vamos estar na Holanda, Bélgica, Itália. Em breve vou a Sevilha e daí sigo direta para o Brasil, um sítio muito especial para mim. O produtor do meu último trabalho é o Nelson Mota, há um dueto com o Djavan e colaborei com o Ivans Lins e outros grandes compositores brasileiros. Por isso, vão ser dias muito intensos.

- Faz também questão de partilhar o seu tempo abraçando causas sociais. Alguma em particular que queira destacar?

Sempre que me pedem, tento cantar para associações. Defendo que todos os artistas deviam apoiar o maior número possível de entidades que necessitam de ajuda. Sou madrinha da ‘Novo Futuro’, uma associação de apoio a crianças provenientes de famílias de risco, e, recentemente, fiz campanhas para a Associação Portuguesade Apoio à Vítima, para o cancro da mama e para a Cruz Vermelha.



Cuca Roseta turns 34 on December 2. She is considered one of the best fado singers of the new generation. Applauded by critics and with a loyal following across borders, she reveals in an interview he granted me recently, this passion she has with fado, the social causes that she embraces and the time when she cried on stage.

António Dias: How does a girl who was part of a choir at school, heard classical music and opera at home, was a lead singer in a Portuguese pop band, heard rock among friends in youth, and finishes working with a tango producer and singing fado?
Cuca Roseta: Well, that makes me believe that the destiny really really wanted me follow this path. Nothing seemed to point to fado. Although, I always liked bed time stories, to write, to look at the world with a romantic and nostalgic perspective, and when I heard fado for the first time I recognized that this was the musical style in which I reviewed myself more. It's almost a form of sung declamation of poetry that brings to the surface deep feelings of melancholy, longing and love. When I sang in 'Toranja' the environment and the marketing was different, the business was another story. But now, I close my eyes and the feeling springs from my heart. The lyrics convey something very intimate and close to my experience, my truth, so I much like to associate fado to the word truth.

- When you released the first CD, with Gustavo Santaolalla (winner oftwo Oscars) as producer, there was a well outlined plan to conquer new markets and even go to countries where fado was never sung before. Was the bet won?
No doubt! In Georgia, for example, it was a sensational experience. They rose twice in the same concert to acclaim me. It was one of the few times that I was thrilled on stage that I cried with emotion. They greatly admire our culture, they say they have a kind of music similar to fado. In Ecuador was the same. There, neither Amalia had gone! Isn’t amazing?

- It must be a huge responsibility to be so young and in addition sing something so deep and still be representative of Portuguese culture in places never before.
In fact it is. We almost are Portuguese ambassadors. It is generally known that out there we are famous by fado and football. So it is important to be one of those personalities that go to other countries and bring some of our culture. It is extremely gratifying to see the public reaction. Some start learning Portuguese and have curiosity about the our country because one day they heard me sing. It's overwhelming.

- Do you find many young people at your concerts?
Yes, even children! What is something strange, because it is said that we need some maturity to understand fado. But I have entire families in front of me and it's exciting to see them enjoy my music and we cannot forget that fado can be very happy and there are a lot of joyful songs. I have mothers who after the shows come to me and admit that buy my CD for their children by their request.

- That's amazing, considering that a decade ago the fado seemed almost dead!
True. I am part of that generation that never interested in this music style. Where I grew up (Cascais) I never listened to that and when I started attending fado clubs, my friends asked me if I had gone crazy. There was a huge prejudice. And thanks to the new fado singers, different styles of each fadista and good themes, fado is reaching the new generations. And this is extremely endearing.

- Are you already preparing the next album?
Most of my energy is now turned to promoting this latest CD. But I already started preparing some songs, to write and to gather some material. It is a very long process that takes almost two years and I want the next job become even better than the previous, more mature.

- One of the places where he will go is Brazil.
Me and the band have a very big tour ahead. We will be in the Netherlands, Belgium, Italy. Soon I go to Seville and then go directly to Brazil, a very special place for me. The producer of my last work is the Nelson Mota, there is a duet with Djavan and I also worked with the Ivans Lins and other great Brazilian composers. So it will be some very intense days.

- You also share a lot of your time embracing social causes. Some in particular you want to highlight?
I try to sing whenever public institutions ask me. I defend that all artists should support the largest possible number of entities that need help. I am Godmother for ‘Novo Futuro’, and recently did campaigns for the Portuguese Association for Victim Support, for breast cancer and for the Red Cross.

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