Há qualquer coisa de
mágico no Porto. Sei que é uma opinião pouco unânime. Há muita gente que
simplesmente detesta o cinzentismo da cidade, projectado nas paredes
graníticas, ruas apertadas, em alguma degradação da malha urbana e naquele
clima que cheira a nevoeiro, chuva, frio e vento. A invicta, obviamente, nem
sempre é cinzenta. Tem dias de sol bastante frequentes, cheiro a maresia,
conversas em voz alta, boa disposição estampada nas vendedoras do mercado do
Bolhão, sorrisos nas esplanadas e nuvens de cor trazidas pelos turistas que
chegam aos magotes.
Tenho ido ao Porto
imensas vezes nos últimos 20 anos e há, sem dúvida, uma transformação imensa. A
primeira vez que estive lá, no verão de 1995, os bares da praça de Lisboa estavam
a morrer, a baixa decaía a cada ano, o ambiente era deprimente. Entretanto,
fruto de imensos investimentos e novas apostas culturais, a cidade foi
rejuvenescendo. As obras do metro foram uma dor de cabeça durante quase uma
década, contudo, retirados os andaimes e os taipais, o Porto revelou-se de
novo. Uma nova geração de jovens começou a circular pela cidade, a sair para a
rua, novos negócios floresceram e a pungente vida estudantil semeou novas
ideias, desenhou novas montras e conceitos que hoje se disseminam pelos bares,
lojas e restaurantes do centro histórico. A rua das Flores é linda, a Ribeira
encantadora, São Bento a mais bonita estação de comboios do país, a livrariaLello sem comparação, o mercado do Bolhão catita, a rua de Santa Catarina
exemplo único de como uma grande cidade pode e consegue manter negócios de rua.
Mas o que está a
diferenciar o Porto de Lisboa é o seu buzz internacional. Eu tenho viajado
bastante ao longo da minha vida e é mais frequente encontrar referências ao
Porto lá fora do que de Lisboa. Lembro quando fiz um interrail, em 1999, ter
encontrado estudantes italianos de arquitectura que estavam na Universidade do
Porto e elogiavam o tipo de formação e o currículo daquela escola.
Recentemente, na Austrália, uma guia turística ficou encantada por saber que
sou português, mostrando-me, de imediato, uma revista de design internacional, que
tinha acabado de comprar, onde uma loja centenária da rua de Santa Catarina aparecia
na capa. “Eu vou a Espanha no verão e vamos depois de carro até Portugal”,
segredou-me. “E faço questão de ir ao Porto”.
E vai acumulando
prémios aqui e acolá. O Porto foi considerado, em 2014, o melhor destino
Europeu, pela EuropeanConsumers Choice, organização sem fins lucrativos de consumidores e
especialistas que organiza o maior evento de e-turismo na Europa; e, em 2013, a
Lonely Planet colocou a Invicta no topo das suas preferências. Este ano, o
mesmo guia voltou a colocar a cidade na lista das dez mais. Os turistas, claro,
respondem à altura. A última vez que lá estive, em meados de setembro deste
ano, durante o festival D’bandada, o ar vibrava de energia, quase que se sentia
a estática das pessoas que andavam aos encontrões. Sair em S. Bento para os
Aliados foi uma experiência surreal. A luz do sol projectava-se nos edifícios art
deco; milhares de jovens deambulavam pelas ruas à espera dos concertos gratuitos;
o ar ainda transpirava verão; e milhares de turistas introduziam elementos
cosmopolitas às vielas e cruzamentos. Parecia que tinha aterrado em Amesterdão,
Londres ou Paris. E isto dá um ânimo ‘do caraças’. Apeteceu-me ficar ali,
deixar a minha pacata vida no campo e mudar-me para aquela cidade. Alugar um
pequeno apartamento no centro histórico, descer até a uma esplanada no cais da
Estiva e ficar por ali a admirar os barcos rabelo, a ponte D. Luís, a movimentação
de gente, os cliques das câmaras fotográficas e sentir o cheiro a comida acaba
de fazer enquanto o vento traz o cheiro do mar.
Tive que me contentar com uma visita
rápida de um dia. Uma espécie de reconhecimento do terreno para mostrar à minha
irmã as belezas desta cidade que ainda lhe era desconhecida. Descemos até
margem norte do Douro, atravessamos a pé o topo da ponte até Gaia, descemos no
teleférico, voltamos ao Porto, subimos até à rua de Santa Catarina, almoçámos
uma francesinha, percorremos o centro histórico até ao mercado do Bolhão, Aliados
e, de metro, fomos até à Casa da Música. Por sorte decorria a feira do livro no
jardim do Palácio de Cristal e voltámos aos Clérigos para depois regressar a
casa, com a alma cheia de saudades. Voltarei em breve, de certeza.
There is something magical about Porto. I know it's a unanimous opinion.
There are many who simply hates the greyness of the city, designed with granite
walls, narrow streets and expressed in some degradation of the urban
environment and, of course, on his climate that smells like fog, rain, cold and
wind. The unbeaten obviously is that the city is not always gray. Some frequent
days are very sunny, there’s a smell a constant smell of sea in the air, a lot
of people talking loud, happiness stamped in the beautiful faces of the the
women sellers in Bolhão market, and clouds of color brought by the tourists
arriving in droves.
I have gone to Porto many times in the last 20 years and there is
undoubtedly a huge transformation. The first time I went there was in the
summer of 1995. The bars of the Lisbon square were dying, the buildings decayed
each year, the atmosphere was depressing. However, thanks to huge investments
and new cultural stakes, the city is rejuvenating. Work on the metro was a
headache for nearly a decade, however, removed the scaffolding and the
shutters, Porto proved itself again. A new generation of young people began to
travel around the city, went out to the street, created new businesses that
flourished, drew new ideas, shops and concepts that today are spread throughout
the bars, shops and restaurants of the historic center. Rua das Flores is
beautiful, Ribeira charming, São Bento the most beautiful train station in
Portugal, the Lello bookshop without comparison amazing, Bolhão market so happy
and colorful, the street of Santa Catarina unique example of how a major city
can keep business outside instead of big shopping malls, a trend in Portugal.
But what differentiates Porto from Lisbon, the nation capital, is its
international buzz. I have traveled extensively throughout my life and it's
more common to find references to Porto than Lisbon. I remember when I made a
interrail, in 1999, I found Italian students of architecture who were at the
University of Porto and praised the type of training and the curriculum of that
school. Recently, in Australia, a tourist guide was delighted to know that I am
Portuguese and showed me, immediately, an international design magazine, which she
had just bought, where a centennial store from Santa Catarina street appeared
on the cover. "I go to Spain the next summer and I will then drive to
Portugal," she whispered to me. "And I must go to the Porto."
And there are, obviously the awards. Porto was considered in 2014 the
best European destination, by the European Consumers Choice, a nonprofit
consumer organization and specialists who organizes the largest e-tourism event
in Europe. And, in 2013, Lonely Planet put it on the top of their preferences.
This year was umber ten. Tourists, of course, respond in the same way. The last
time I was there in mid-September of this year, there was a music festival that
offered free concerts all over the city center, the air vibrated with energy, I
almost felt the static of the people who I bumped to. Going from S. Bento to
Aliados was a surreal experience. The sunlight projected up in the art deco
buildings; thousands of youths roamed the streets; the air still exuded summer;
and thousands of tourists introduced a cosmopolitan vibe to the scenario. It looked
like it had landed in Amsterdam, London or Paris.
I wanted to stay here forever. For a moment, I wanted to leave my quiet
countryside life and move to this city. Rent a small apartment in the
historical center, go down to a terrace on the pier and admire the rabelo
boats, the D. Luis bridge, the movement of people, the clicks of cameras and
smell the food as it arrives to my plate.
I had to content myself with a quick one-day visit, enough to show it to
my little sister. We arrived the north bank of the Douro, crossed the top of
the S. Luís bridge to Gaia, descended on the chairlift, returned to Porto and
walked up to Santa Catarina street, had francesinha for lunch, went through the
historic center to the Bolhão market, cressed to Allies avenue and, by subway, we
went to the Casa da Música. Luckily there was a book fair at the Crystal Palace
gardens and after that we returned to Clerigos and then returned home with our
souls full memories. I’ll be back soon, for sure.
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