Ana Matos
Cristiana Rodrigues
O mundo precisa de gente que sorri, abraça e que se dá
aos outros sem medo. Fui conhecer há dias uma instituição cheia de gente bonita
e almas grandiosas. Na freguesia de Meca, no concelho de Alenquer, a Associação de Apoio a Idosos e Jovens (AAIJFM) luta, há muitos anos, por cuidar de
quem mais precisa de ajuda, carinho e apoio. “O ano passado, por exemplo, foi
nos sinalizado um caso de um idoso, com mais de 80 anos, que vivia numa
barraca, no centro de Alenquer, que estava quase cego por causa das cataratas,
tinha as articulações calcificadas, mal se conseguia mexer e ninguém para o
ajudar. Era um caso de abandono extremo”, relata Ana Matos, directora técnica do centro de actividades
ocupacionais. “É
uma história de alguém que deu tudo aos familiares e amigos, nunca cuidou de si próprio e, no final,
ninguém está ao lado dele. É chocante”, lamenta.
Apesar de dramático, este senhor acabou por ser encaminhado e hoje vive
em melhores condições. Porém, muitos outros encontram-se à margem da sociedade
e nem sequer têm a capacidade de pedirem ajuda, de tal forma estão encurralados
pelas fraquezas do corpo. Daí este trabalho ser tão importante. Mais do que comida
e cuidados de saúde, a AAIJFM e outras instituições do género partilham afetos.
O idoso abandonado em Alenquer recebe agora visitas frequentes das monitoras da
associação. “Estamos com ele no dia de Natal, na passagem de ano e sempre que
possível. Ele consegue cozinhar, lavar a roupa e de saber onde guarda as coisas
que precisa”, elogia Ana Matos. É uma relação tão próxima, mais do que se
esperaria entre duas pessoas que mal se conheciam.
Ana Matos é apenas uma das 20 funcionárias da AAIJFM que prestam apoio a
quase 200 pessoas, entre idosos e portadores de deficiências. Metade deles
dentro das paredes das instalações e os restantes espalhados pelas suas casas,
muitas vezes incapazes de se mexerem, de verem ou de ouvirem. É um trabalho de
uma humanidade incrível e de um esforço sobre humano, sobretudo tendo em conta
o panorama que o país atravessa. Cristiana Rodrigues, do departamento de marketing
e de angariação de fundos suspira: “é uma gestão muito apertada dos recursos.
Não há lugar para desperdícios”. A verdade é que o dinheiro é pouco e ninguém o
quer dar. Para as instituições particulares de solidariedade social (IPSS) o cenário piorou. “É muita gente a necessitar
de ajuda e é cada vez maior o receio em dar dinheiro sem saber para onde vai”,
admite Cristiana Rodrigues. “Foram demasiados anos de abusos e má gestão e agora
há imensa necessidade de se ser transparente. Somos cada vez mais abordados na
rua em peditórios que até já nos cansamos. E depois há quem acabe por preferir
comprar uma sandes ou um bolo em vez de dar dinheiro”. O paradigma mudou
radicalmente e, atualmente, esta responsável admite preferir mais o apoio
material do que financeiro. “Se tiver uma empresa que me dê uma cadeira escuso
de a comprar”, exemplifica.
Outras das formas é reduzir os custos, com muita ginástica e imaginação.
Mas os resultados podem ser animadores. Exemplo disso é padaria social criada
pela AAIJM que, além de reduzir a fatura do pão, contribuiu para a
profissionalização de 30 utentes portadores de deficiência. “Com o apoio da
autarquia conseguimos reabilitar a antiga escola primária onde se produzem,
diariamente, 100 pães“, explica Ana Matos. É a primeira fase de um projeto que
poderá ser alargado com venda ao público. “Para já, produzimos para consumo
interno mas pretendemos aumentar a quantidade e vender para fora”. Só que, lá
está, é preciso dinheiro. Ter uma padaria implica regras de higiene e segurança
e toda uma estrutura que, para já, são impossíveis de garantir. “Está desenhado
no papel. Agora é bater à porta de quem nos pode ajudar”, explica a directora técnica do
centro de actividades ocupacionais. Não obstante, há
ânimo nos rostos destes utentes da AAIJM. Sorrisos por se sentirem úteis,
satisfeitos por desempenharem uma função e serem incluídos na sociedade. “As
empresas ainda torcem muito o nariz quando são contactadas para dar trabalho a
pessoas com deficiência e esta padaria pode ser uma resposta a esse problema”,
admite Ana Matos.
Visitei a padaria durante uma das fornadas. Foi num destes dias de
inverno cheio de sol. Dentro da sala de aula reconvertida a padaria, o cheiro a
pão quente faz crescer água na boca. Ricardo é um dos utentes que está
entusiasmado com este trabalho. O forno apita e ele abre a porta, retira o
tabuleiro e despeja os pães no cesto. Os companheiros cobrem tudo com um pano,
outros ajudam a colocar mais pães para cozer. Estão alegres e sabem quais as
tarefas que lhes competem. Nesta antiga escola primária, onde crianças outrora
aprendiam a ler a escrever, hoje há jovens também a aprender a ser felizes. Repartem
entre si sorrisos e olhares de cumplicidade. Aos poucos, eles estão a mudar o
mundo para melhor.
The world needs people who
smiles, embraces social causes and gives love and dedication without fear. I met,
a few days ago, a institution full of beautiful people and big souls. In the
township of Mecca, in Alenquer municipality, the Association for the Elderlyand Youth (AAIJFM) fights, for many years, for taking care of those in need of
food, heath care and, above all, in need of love and support. "Last year,
for example, we found a case of an elderly man, with more than 80 years old,
living in a tent in the center of Alenquer, who was almost blind because of
cataracts, had calcified joints, hardly could move and had no one to help. It was
an extreme case of abandonment", says Ana Matos, technical director of the
center for occupational activities. "It's a story of someone who gave it all
to family and friends, never took care of himself and, in the end, had no one
is beside him. It is shocking, "she laments.
Although dramatic, this gentleman
turned out to be helped and now lives in better conditions. But many others are
on the margins of society and even haven’t the ability to ask for help and are
trapped by the weakness of the body. Hence this work is so important. More than
food and health care, AAIJFM and other such institutions share affections. The
old man abandoned in Alenquer now receives frequent visits of the association
monitors. "We are with him on Christmas Day, New Year's Eve and whenever
possible. He can cook, wash clothes and he knows where he keeps his belongings.
He has a perfect mind”, says Ana Matos. It's such a close relationship, more
than one would expect between two people who hardly knew each other.
Ana Matos is just one of 20
employees of AAIJFM providing support to nearly 200 people, elderly and people
with disabilities. Half of them within the walls of the premises and the rest
scattered in their homes, often unable to move, see or hear. It is a work of
incredible humanity and a superhuman effort, particularly given the outlook
facing the country. Cristiana Rodrigues, the marketing department and fundraising
sighs: "It's a very tight management of resources. No place to waste".
The truth is that money is scarce and no one wants to give it for free. For
private institutions of social solidarity (IPSS) the scenario worsened with the
Eurozone crisis. "There’s a lot of people in need as is increasing the
fear of giving money without knowing where it goes," admits Cristiana
Rodrigues. "It as been too many years of abuse and mismanagement and now
there is immense need to be transparent. We are increasingly approached on the
street in fundraising campaigns that we get exhausted. And then there are those
who will eventually prefer to buy a sandwich or a cake to the poor man instead
of giving money". The paradigm has changed dramatically and currently Cristiana
admits she prefer material support than financial. "If I have a company
that give me a chair I don’t need to buy it", she explains.
Other way is to cut costs, with a
lot of gymnastics and imagination. But the results can be encouraging. One
example is social bakery created by AAIJM that in addition to reducing the
bread cost, contributes to the professionalization of 30 disabled persons.
"With the support of the local authority we managed to rehabilitate the
former abandoned elementary school where we produce, every day, 100 breads,"
explains Ana Matos. It is the first phase of a project that could be extended
to public sale. "For now, we produce for our consumption but we intend to
increase the quantity and sell it out". But, again, it takes money. Having
a bakery involves hygiene and safety rules and a whole structure which, for the
moment, is impossible to guarantee. "It's drawn on paper. But we have to
go and knock on the door of who can help us", explains the technical
director of the center for occupational activities. Nevertheless, there is
courage in the face of these AAIJM users. They smile because they feel useful,
pleased to play a role and be included in society. "Companies are still
very afraid when they are contacted to give work to people with disabilities
and this bakery can be an answer to this problem," admits Ana Matos.
I visited the bakery during one
of the heats. It was one of those beautiful sunny winter days. Within the class
converted the bakery room, the smell of warm bread makes the mouth watery.
Ricardo is one of the users who are enthusiastic about this work. The oven beeps
and he opens the door, removes the pan and pour the bread in the basket. The
companions cover everything with a cloth, others help to put more bread in the
pan to bake. They are happy and know what tasks concern each of them. This former elementary school, where
children once learned to read and write, there are now young people learning to
be happy. They divide among themselves complicit smiles and glances of happiness.
Gradually, they are turning the world in a better place.
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