Nasci em Paris, a 25 de junho de 1976. Os
meus pais foram emigrantes mas acabaram por regressar a Portugal, em 1982, e eu
vim com eles, juntamente com a minha irmã, dois anos mais nova. Apesar de ter
crescido neste pacato país à beira mar plantado, um pedaço do meu coração ficou
entrelaçado com muitas das minhas recordações de infância: a rua de La Croix
Nivert ou a avenue Felix-Faure onde morei; o 14eme arrondissement onde nasci; o
jardim de infância onde conheci o Bertrand, o meu primeiro melhor amigo; os pequenos
apartamentos onde os meus jovens pais moravam, para economizar todos os francos
que mandavam trocar por escudos; e as palavras francesas aportuguesadas que a
minha mãe teima em repetir como ‘pubela’, para se referir a caixote do lixo, ou
o ‘donc’ como interjeição em quase todas as conversas.
As memórias mais antigas são,
obviamente, faladas em francês e têm como pano de fundo imagens icónicas que
pertencem à humanidade. Lembro-me de atirar bolas de neve ao meu pai enquanto
ele sorria e por trás brilhava a torre Eiffel; de ver o ‘Incroyable Mais
Vrais’, um programa de
variedades que unia a família na galhofa todas as semanas; recordo-me do sabor
a croissants pela manhã que a minha mãe preparava ao abrir uma lata cilíndrica,
recortando a massa fresca pelo picotado; para sempre ficou gravada a paixão fervorosa
que o meu pai tinha, e ainda tem, por aquela grande nação que nos acolheu, a
nós e tantos portugueses que procuravam um salário digno.
A França é, a todos os níveis, um ícone
de liberdade, beleza, estética, arte, engenharia, audácia, altruísmo e também diversão
e alegria. É o país mais visitado no mundo, Paris a cidade no primeiro lugar do
turismo. Retém este título há décadas por algum motivo. Para os portugueses, esta
é uma nação irmã. Nas décadas após 1950 acolheu mais de milhão e meio de
compatriotas e, actualmente, residem, sobretudo na capital, quase 600 mil pessoas
com nacionalidade lusa. Quase todos conhecemos algum amigo, familiar, amigo de
familiar ou amigo de amigo que já trabalhou ou trabalha em terras de Napoleão.
A França está entranhada no nosso ADN, faz parte da nossa História e é um pouco
do ar que respiramos.
Foi com a alma esmagada
que acompanhei os eventos desta sexta-feira, 13 de novembro. Tento ser um tipo
com algum pragmatismo e racionalidade e, por isso, faço um esforço para
relativizar ou colocar em perspetiva todos os factos. No dia a dia, recuso ver
violência, evito notícias depressivas, programas de televisão que nada de novo
nos ensinam e todo o meu trabalho, como jornalista, na storybook e no meu
blogue é, sempre que possível, comtista. Quero conhecer histórias com finais
felizes que nos façam sorrir e ter ânimo para continuar. Todos passamos por
problemas e tragédias que, de alguma forma, ultrapassamos. Nos livros que
escrevo para os clientes que me procuram na storybook é esse o tom que gosto de
tecer através das palavras. Como diria, recentemente, uma cliente minha, que
vai oferecer um livro ao filho que está distante, escrever é, além de “partilhar
o que se sente” uma forma de se registar, “para sempre, um sentimento que nunca
mudará”. É apenas isso que quero deixar expresso nestes dias de luto mundial.
Há imensos infortúnios no mundo em que vivemos. Enfrentamos demasiadas guerras,
injustiças, sofrimento e desespero. É inimaginável o que gente nos locais mais
remotos do globo sente na pele, incapaz de procurar salvação. À distância,
apenas posso, podemos, ceder um pouco do nosso tempo para lamentar tudo isto.
Aos poucos, talvez consigamos, todos juntos, repudiar o mal que assola o nosso
mundo e, num futuro próximo, viver em paz e sem medo. Eu vou reter as melhores
memórias da minha vida e ninguém as vai apagar. Será sempre forte o carinho que
nutro pela França e as imagens a preto e branco que retenho na memória. Vou sempre
sorrir quando a minha mãe disser ‘pubela’, em vez de caixote do lixo, e irei
sempre regressar comovido à cidade que me viu nascer. Paris, je t’aime.
I was born
in Paris on June 25th, of 1976. My parents were immigrants but ended
up returning to Portugal in 1982, and I came up with them, along with my
sister, two years younger. Although I grew up in this quiet country planted by
the sea, a piece of my heart was intertwined with many of my childhood
memories: the La Croix Nivert street or the avenue Felix-Faure where I lived;
the 14eme arrondissement where I was born; the kindergarten where I met
Bertrand, my first best friend; the small apartments where my young parents
lived, to save all the french francs who exchange for the Portuguese escudo
currency; and those French turned Portuguese word that my mother insists on
repeating as 'pubela', to refer to the bin, or 'donc' as interjection in almost
every conversation.
The
earliest memories are obviously spoken in French and have as background iconic
images belonging to humanity. I remember throwing snowballs to my father as he
smiled and glowed behind the Eiffel Tower; to see the ‘Incroyable Mais Vrais’, a
variety tv show that united the family in jest every week; I remember the taste
of croissants in the morning that my mother prepared by opening a cylindricalcan, cutting fresh pasta by the perforation; and I will always remember the
fervent passion that my father had, and still have, for that great nation that
welcomed us, us and so many thousands of Portuguese who sought a minimum living
wage.
France is,
at all levels, an icon of freedom, beauty, aesthetics, art, engineering,
courage, selflessness and also fun and joy. It is the most visited country in
the world, Paris the city in the first place of tourism. It retain this title
for decades for some reason. For the Portuguese it’s a sister nation. In the
decades after 1950’s France welcomed more than million and a half countrymen
and currently reside, mainly in the capital, almost 600,000 people with
Portuguese nationality. Almost we all know a friend, family member, family
friend or friend of friend who has worked or works in Napoleon's land. France
is ingrained in our DNA, is part of our history and is a bit of the air we
breathe.
So, it was
with a crushed soul that I followed the events of Friday, November 13th.
I try to be a guy with some pragmatism and rationality and, therefore, I make
an effort to relativize or put in perspective all the facts. On a daily basis, I
refuse to see violence, avoid depressing news and television programs that
teach us nothing new and all my work as a journalist, in storybook and my blog
is, wherever possible, positive. I want to know stories with happy endings that
make us smile and show us the courage to continue forward. We all go through
problems and tragedies that somehow we surpassed. In the books I write for
clients who come to me in storybook that is the tone I like weaving through my words.
Like a recently a client of mine said, that will offer a book to the child who
is far away, “writing is more than sharing sentiments", it’s a form of
register, "forever, a feeling that will never change."
That’s what
I want to leave expressed in these days of world mourning. There are lots of
misfortunes in the world these days. We face too many wars, injustice,
suffering and despair. It is unimaginable what people in the remotest parts of
the globe feel in the skin, unable to seek salvation. In the distance, we can
only give a little of our time to regret all this. Gradually, maybe we can all
together, put away the evil that plagues our world and in the near future, live
in peace and without fear. I will retain the best memories of my life in France
and no one will erase them. I will always have strong affection for those black
and white covered images that I retain in memory. I will always smile when my
mother say 'pubela' instead of the bin, and will always be moved when I return
each time to the city where I was born. Paris, je t'aime.
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