São Jorge num dia

A ilha de São Jorge é deslumbrante: por causa da sua morfologia, estética, detalhes geográficos, tradições e belezas paisagísticas. É mais um pedaço de céu na terra. Aquele território, de 53 quilómetros de comprimento e oito de largura, chega a atingir os mil metros de altura, daí as suas encostas escarpadas, falésias e, claro, fajãs. Estes abatimentos de parte de uma arriba são lugares difíceis de alcançar e sítio onde mora gente que passa anos sem de lá sair. “Já aconteceu derrocarem algumas estradas com chuvas fortes e a população ficar isolada durante meses até a reparação ficar concluída”, conta-me o guia. As mais importantes ficam no lado norte, já que o sul tem menor declive. Foi a força do mar, durante milénios, que esculpiu toda esta zona costeira, derrubando paredes de centenas de metros, arrancando detritos, fósseis, cinzas e pedras vulcânicas de volta ao mar. O que fica é de cortar a respiração: um muro escuro contínuo, forrado de urze, arbustos e pasto, onde gaivotas, melros e milhafres nidificam. Cá de cima, do miradouro da Fajã dos Cubres, avisto o oceano na sua infinitude, nuvens esparsas que esbarram contra as serras, um vento agreste que me arrepia a espinha e uma paz interior inesquecível. Há harmonia, ar limpo e os sons da natureza a rodear-me. Eu e a minha irmã estamos ali, a admirar a paisagem espetacular, espantados com os recantos deste Portugal quase desconhecido.

São Jorge pode ser vista num só dia. Aproveitei a minha estadia no arquipélago para lá dar um pulo, até porque o tempo já estava todo dedicado ao Faial e ao Pico, os outros dois vértices deste triângulo insular. Contratei um guia que, de jipe, percorreu a estrada que une a ilha de um lado ao outro. Começámos pela localidade de Velas, onde o barco atracou, passavam poucos minutos das dez da manhã. De São Roque do Pico ao porto de Velas são 13 quilómetros que demoram cerca de meia hora a sulcar. Depois de entrarmos na viatura, subimos em direção à ponta dos Rosais, atravessando o parque florestal Sete Fontes. Dali, é possível ver a imensidão dos prados e campos de cultivo, separados por muros de rocha preta ou aglomerados de hortênsias. A flor está presente em todos os cantos, estradas, miradouros, cumes, vales, ruas e vasos dos Açores. São a imagem de marca e pintam de cor todo o horizonte. É simplesmente divinal.

Do extremo oeste, fazemos durante o resto do dia a viagem até ao lado este. Paramos em diversas pontos importantes para respirar o ar puro, acalmar a alma e encher o espírito de boas vibrações. Depois de descermos à fajã dos Cubres, voltamos a subir, curva contra curva, ésses e mais ésses, a contornar a montanha em direção ao topo da ilha para de novo voltarmos a descer até à Calheta, onde almoçamos. De barriga cheia, continuamos o passeio. Sempre a subir e a descer. Num minuto junto ao mar, no outro a atravessar bancos de nevoeiro, nuvens que se arrastam encostas acima. Fazemos uma paragem no miradouro das Pedras Brancas e a meio caminho do Topo visitamos a fábrica de queijo da ilha de São Jorge, em Santo Antão. Durante cerca de uma hora é possível percorrer os corredores e salas a cheirar a leite coalhado e queijo fresco. O ar frio chega aos ossos, por isso é aconselhável ir bem agasalhado. No final, é possível provar as três variedades de queijo. Sou suspeito, mas é o melhor queijo que há. Suculento, ligeiramente picante, não muito rijo nem demasiado mole. Come-se sem pão nem nada. É delicioso.

E depois partimos até à ponta mais a este, onde avistamos o ilhéu do Topo. Aquele pequeno território de 20 hectares é propriedade privada de diversos herdeiros e é arrendado como zona de pastagem por cerca de €600 por ano. Incrível, não é? Se fosse meu, era ali que construía a minha casa de férias. O ilhéu só é acessível por barco, e nem tem cais de acesso. O desembarque é possível em apenas alguns locais. E apesar de estar integrado na zona de protecção especial, devido à sua riqueza em fauna marinha, o facto é que está em avançado estado de degradação, fruto do pastoreio excessivo de bovinos e caprinos que desbastam todo a flora ali existente. Os animais vivem ali isolados e quando atravessa, fazem-nos a nado, durante a maré baixa. Depois de descermos até ao pequeno cais do Topo, fazemos a viagem de regresso até Velas a tempo de visitar a pequena localidade pacata e acolhedora. Pelo seu interesse histórico, o edifício dos paços do concelho é um dos mais importantes a ver e centro da vila, sendo um raro exemplo do barroco açoriano. Aquelas paredes brancas debruadas a preto vulcânico são uma constante no arquipélago. No porto, onde apanhamos o barco de regresso ao Pico, ainda podemos ver o portão do cais, construído pelo pedreiro Matias Avelar, em cantaria, que desde 1797 dura até aos nossos dias.

É claro que como qualquer outro sítio bonito, a ilha merece alguns dias para descobrir. Há imensas actividades, como caminhadas, canoying, mergulho, pesca, escalada. E haverá o dia em que vou voltar. De certeza.

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São Jorge island in Azores is just stunning: because of their morphology, aesthetic, geographical details, traditions and scenic beauty. It's a piece of heaven on earth. That territory, 53 kilometers long and eight kilometers wide, it reaches the thousand meters high, hence its steep slopes, cliffs and of course fajãs, part of a cliff that rebated and are hard to reach and place where people live and some spend years without leaving. "It's happened that after heavy rains some roads are destroyed and the population is isolated for months until the repair is completed," the guide tells me. The most important is the north side, since the south is less steep. It was there where the force of the sea, during millenniums, who sculpted this whole coastal area, knocking down walls hundreds of meters high, pulling debris, fossils, ashes and volcanic stones back to the sea. What remains is breathtaking: a continuous dark wall, lined with heather, bushes and grass, where seagulls, blackbirds and buzzards nest. Here above, in the viewpoint of the fajã dos Cubres, I can spot the ocean in its infinitude, scattered clouds that come up against the mountains a wild wind that chills my spine and an unforgettable inner peace. There is harmony, clean air and the sounds of nature that surrounds me. I and my sister are there to admire the spectacular scenery, amazed at the corners of this Portugal almost unknown.
São Jorge can be seen in one day. I enjoyed my stay in the archipelago with all my time dedicated to Faial and Pico, the other two vertices of this insular triangle. But I wanted to see a little bit of the third island. So I hired a guide, a jeep, and ran the road that links the island from one side to another. We started by Velas location where the boat docked, a few minutes after ten in the morning. São Roque do Pico to Velas port are 13 kilometers by the sea and it takes about half an hour the groove. Once we get into the car, we went up toward the tip of Rosais across the Sete Fontes Forest Park. From there, you can see the immensity of the meadows and crop fields, separated by walls of black rock or hydrangea clusters. The flower is present in every corner, roads, viewpoints, ridges, valleys, streets, and vessels of the Azores. They are the brand image and they paint color across the horizon. It's simply divine.
We travel to the east during the rest of the day trip. We stopped at several important points to breathe clean air, soothe the soul and fill the spirit with good vibes. After we went down to fajã dos Cubres, we turn up, curve against curve, to circumvent the mountain toward the top of the island to again back down to Calheta, where we had lunch. With full stomach, the tour continued. Always up and down. One minute by the sea, the other going through fog banks, clouds that drag slopes above. We make a stop at the viewpoint of the Pedras Brancas and halfway to the top we visited the cheese factory, in Santo Antao. For about an hour we walked the corridors and rooms smelling of curdled milk and fresh cheese. The cold air reaches the bone, so it is advisable to go well wrapped up. In the end, you can taste the three varieties of cheese. I am suspect, but it is the best cheese there is. Juicy, slightly spicy, not too hard or too soft. It can be eaten without bread or anything. It's delicious.
And then we set off to the east tip, where we saw the islet of Topo. That small territory of 20 hectares is privately owned by several heirs and is leased as grazing area for about €600 per year. Amazing, isn’t it? If it was mine, I would built my holiday home there. The small island is only accessible by boat, and do not have access pier. The landing is possible in only a few locations. And despite being integrated in the special protection area due to its richness in marine avifauna, the fact is that it is in an advanced state of degradation, due to the overgrazing of cattle and goats chopping all the existing flora there. The animals live there isolated and when they cross, they do it with water up to the belly during the low tide.

After we descend to the small pier top of Topo, we make the return trip to Velas in time to visit that small quiet and cozy location. For its historical interest, the building of the town hall is one of the most important in the town center, which is a rare example of the Azorean baroque. Those white walls trimmed with the volcanic black stone are a constant view in the archipelago. In the harbor, where we caught the boat back to Pico island, we can still see the dock gate, built by Matias Avelar, in stone, in 1797, that lasts until today.
Of course, like any other beautiful place, the island deserves a few days to discover it. There are plenty of activities such as hiking, canoying, diving, fishing, climbing and much more. And there will be the day that I’ll return. For sure.