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“Cantar até que a voz me doa”

I’ll sing ‘till my voice stands



“Tu mereces as salas esgotadas”, defende Carla Rodrigues. “A dedicação, o amor e o sentimento que transmites em cada nota e letra só podia dar sucesso”, afirma Ana Lourenço. “Concerto que até arrepia!”, assevera Fátima Silva. “Como é possível resistir à voz, sensualidade e ao timbre de alma tão grande? Admiro a humildade”, elogia Herberto Cadete. Estes são alguns dos milhares de comentários que Rita Guerra coleciona na sua página de facebook. Com mais de 30 anos de carreira e 48 de idade, a cantora portuguesa está em paz com a sua vida, orgulhosa do trajeto percorrido e ansiosa pelo futuro. Uma conversa com esta romântica inveterada, a propósito da turné que anda pelo país.

António Dias: Já lançou sete discos de originais, este ano publicou o seu livro biográfico e apresentou em outubro o seu primeiro CD com os maiores sucessos da sua carreira. Como olha para o passado?
Rita Guerra: Com imenso orgulho. Acho que atingi uma fase equilibrada da minha vida. Comecei a cantar em bares em Lisboa com 16 anos e, apesar de muito jovem, estava bastante consciente daquilo que queria fazer. A carreira discográfica foi posterior (o primeiro disco é de 1989, já com 22 anos) mas, olhando à distância, acho que cada passo foi seguro, dado com orgulho, satisfação de dever cumprido e agora sinto me motivada, mais do que nunca, para seguir em frente. Apesar de todas as dificuldades que tive, valeu a pena e é gratificante estar no meio profissional com que sempre sonhei, sentir-me realizada e ter público ansioso para me ouvir e ver e com tanta energia. São os meus fãs que, em última análise, dão fôlego para continuar. São destemidos, apaixonados, gostam de me ouvir, vão aos meus concertos concentrados e compenetrados nas canções e é enternecedor. Às vezes, até me sinto intimidada com o silêncio e peço-lhes para cantar, porque, apesar de ser um concerto, as pessoas podem e devem participar. Cantar faz bem a alma e a única pessoa que está impedida de desafinar sou eu.

Talvez haja algo de introspetivo nas suas músicas que iniba a audiência. As suas músicas apelam à calma. Concorda?
Sim, é verdade. São tão introspectivas e tão profundas que podem levar o ouvinte a procurar o silêncio. E é verdade que o espectáculo em turné é num formato acústico e mais intimista. No entanto, há pessoas que dizem que gostariam de me acompanhar em voz alta, só que admitem que têm vergonha por causa das amigas com quem vão. Ora, eu estou aqui para lhes dizer que não devem ser assim. Gosto muito de expressar o que sinto quando canto. Porém, também adoro que partilhem comigo. É isso que me dá inspiração e motivação.

Quais os momentos do seu passado que guarda com mais carinho?
As minhas participações com o Beto (falecido em 2010) deixam sempre saudade. Era uma pessoa por quem tinha um sentimento de irmandade muito forte. Cantava de forma única e era uma das pessoas que mais me inspirava em palco. Também nunca mais vou esquecer os dois concertos com o Michael Bolton, que é uma das minhas grandes referências. Fiquei tão feliz quanto chocada quando recebi o convite para colaborar com ele. É uma parceria que se poderá repetir. Mais não posso desvendar.

O que mais a inspira?
Sinceramente, o meu equilíbrio e a minha paz de alma. Gosto desmesuradamente de cantar: a sensação de limpeza e libertação que tenho quando estou em palco é incrível que ninguém consegue imaginar. Há canções que saem maravilhosamente logo ao primeiro take. Só necessito de estar bem, psicologicamente e fisicamente. Só se estiver muito cansada ou com sinusite, que é um problema que me persegue, é que é mais complicado. Mas de resto, nada me perturba. E, claro, os meus fãs dão-me toda a energia. É como deitar sal e pimenta no queijo fresco: ele é bom, mas temperado fica muito melhor. As pessoas que me ouvem numa sala absorvem o som e entram na minha alma. É um laço que se cria imperturbável. E é quando se completa a receita: eu, os músicos e o público. Mesmo que falhe a electricidade, canto à capela se for preciso!

Tem um público específico?
É muito transversal em termo de idades e sexo. Na página de facebook tenho muitos comentários de mulheres mas também de membros do sexo masculino que deixam frases simpáticas e elogios aos espetáculos. Há muitos homens românticos por aí, mais do que se possa imaginar!

E, deduzo, há quem se reveja nos problemas de violência doméstica que atravessou…
Sim, é verdade. E sempre que possível, sem me meter muito no assunto, deixo uma palavra de alento, um conselho, nem que seja para terem a coragem de se erguer.

E tem público jovem nos concertos?
Imenso! Até crianças que cantam as minhas canções! Há dias, estava numa superfície comercial e uns rapazes que tinham todo o ar de ouvirem rap ou hip hop disseram-me olá. Quem me acompanhava, até estranhou. Eu também já colaborei com um conhecido DJ (Mastik Soul) e aprecio música electrónica. Ou então é por ser motard. Mas há um carinho muito grande por parte deles. Muitos nem devem imaginar que tenho 48 anos de idade e já uma neta (risos).

Faço esta pergunta, tendo em conta o panorama mediático atual que valoriza o mediatismo e o que se faz lá fora em detrimento do produto nacional.
Eu tenho uma carreira cimentada. É claro que preciso dos media como qualquer outro artista, mas acho que existem lobbies difíceis de controlar. Ainda assim, não queixo muito. Além disso, atualmente há outros canais para promover o nosso trabalho, como o youtube e o facebook. Todavia, admito que gostava que passasse mais música portuguesa nas rádios nacionais.

As rádios locais acabam por ter um papel muito importante.
Importantíssimo! É uma luta minha desde sempre. Eu e o Beto tivemos uma chatice há uns anos com uma editora que se recusava a disponibilizar CD para as rádios locais. Nós insistimos e defendemos que, em vez de os dar aos familiares e amigos, que deveriam ser dados a estas empresas mais pequenas. No final, acabámos por ir no nosso carro, pagámos o gasóleo e as portagens e fizemos questão de ir entregar os nossos discos promocionais. Foi ridículo. É claro que, hoje em dia, elas podem ter acesso a todo este material pela internet. Mas há aqui um ato de carinho, uma forma de agradecimento pelo seu apoio que é incontornável. As rádios locais não dispõem do mesmo poder financeiro que as emissoras nacionais. Por isso, é o mínimo que se podia fazer.

E apesar de todos estes entraves, como olha para o futuro?
Com ânimo. Vou trabalhar com calma no próximo álbum, atenta às opiniões de quem me rodeia, debatendo ideias para depois gravar um produto final que é meu mas também de um equipa que me acompanha e do público que nunca esqueço.

Promete mais 32 anos a cantar?
Pelo menos! Até que a voz me doa.


"You deserve the full theaters," says Carla Rodrigues. "The dedication, love and the feeling that you transmit in every note and lyric is incredible," defends Ana Lourenço. "Concert that chills!", asserts Fátima Silva. "How can one resist the voice, sensuality and your soul timbre? I admire your humility", praises Herbert Cadet. These are some of the thousands of comments that Rita Guerra collects on her facebook page. With over 30 years of career and 48 of age, the Portuguese singer is at peace with her life, proud and anxious for the future. A conversation with this inveterate romantic about her ongoing tour.

António Dias: You already launched seven original music albuns, this year you’ve published your first autobiographical book and presented last October your greatest hits CD. How do you look at the past?
Rita Guerra: With immense pride. I think I’ve achieved a balanced phase of my life. I started singing in bars in Lisbon with 16 years old and, although very young, was well aware of what I wanted to do. The recording career started later (her first record is from 1989, with 22 years old) but, looking at distance, I think that every step was safe, with proudly fulfilment and now I feel motivated more than ever. Despite all the difficulties I had, it was worth it and it is gratifying to be in professional circles I've always dreamed of. My fans are what ultimately gives me courage to continue. They are fearless and passionate about my work, they love to go to my concerts, they praise silence and are always very concentrated. Sometimes I even feel intimidated by the silence and I ask them to sing along because, despite being in a concert, people can and should participate. Singing is good for the soul.

Perhaps there is something in your song that are very introspective and that inhibits the audience. Don’t your songs call for calm and peace?
Yes it's true. They are so introspective and so deep that can lead the listener to look for silence. And it is true that the show on tour is an acoustic one in a more intimate format. However, there are people who say they would like to sing along with me, but admit they are embarrassed because of their friends who that are with. Now, I'm here to tell them that they should not be. I love to express what I feel when I sing. But also love when people share with me. That's what gives me inspiration and motivation.

Which moments from your past that you treasure most?
My works with Beto (died 2010) always make me miss the past. He was a person whit whom I had a sense strong brotherhood. He sang in a unique way and was one of the people who most inspired me the most. Also I will never forget the two concerts with Michael Bolton, who is one of my great references. I was as happy as shocked when he told me that he wanted to work with me.

What else inspires you?
Honestly, my balance and my peace of mind. I inordinately love to sing: the feeling of cleanliness and freedom I have when I'm on stage is amazing that no one can imagine. There are songs that come out beautifully at the first take. I just need to be well psychologically and physically. Only if you I’m too tired or with sinusitis, which is a problem that haunts me, it is when is more complicated. But otherwise, nothing disturbs me. And, of course, my fans give me all the energy I need. It is like throwing salt and pepper on fresh cheese: it is good, but tempered gets much better. People who hear me in a concert room absorb sound and enter my soul. It is a undisturbed bond. And it’s when the recipe is complete: I, the musicians and the audience. Even if electricity fails I’ll, sing a cappella if necessary!

Have you a specific audience?
It's cross in terms of age and gender. My facebook page gets many comments from women but also male members leaving sympathetic phrases and compliments for the shows. There are many romantic men out there, more than you can imagine!

And, I gather, there are those who review themselves from the problems of domestic violence you had in the past.
Yes it's true. And whenever possible, I leave a word of encouragement, advices, enough for them to have the courage to stand up and fight for themselves.

Are there young people at your concerts?
Many! Even children who sing my songs! The other day I was in a shopping center and some guys who had all the rap or hip hop look told me hello. My friend who accompanied me, was surprised. Probably they knew me from my collaboration with a well known DJ (Mastik Soul) and enjoy electronic music. Or it is because I’m a biker. But they all have a great affection from them. Many don’t imagine that I am 48 years old woman who already as has a granddaughter (laughs).

I ask this question in view of the current media landscape that values ​​the media attention and what it’s done in foreign countries instead of Portuguese material.
I have a big career. Of course I need the media like any other artist, but I think there are lobbies hard to control. Still, I haven’t much to complain about. In addition, currently there are other forms to promote our work, like youtube and facebook. However, I admit I liked that my music passed more over Portuguese radios stations.

The local radio stations have a very important role.
Hugely important! It is a struggle of my whole life. Me and Beto had a drag a few years ago with a music publisher who refused to provide promotional CD to local radio. We insist and argue that, instead of giving them to family and friends, they should be given to these smaller companies. In the end we had to go in our car, we paid fuel and tolls and we made sure to go to deliver our promotional albuns to those smaller radio stations. It was ridiculous.

And despite all these obstacles, how it looks the future?
Great. I will work calmly on the next album, listen to the opinions of those around me, debat ideas and then I’ll write a final product that is mine but also a result of a team work that I hope my audience will appreciate.

Do you promise to sing for 32 years more?

At least! Until my voice don’t hurt my throat.

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