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Feliz Natal

Merry Christmas


É incrível como o Natal se apoderou da nossa cultura. Aquilo que era uma pequena tradição religiosa ocidental, transformou-se num enorme evento à escala mundial a que poucos conseguem escapar, como alguns países no médio oriente, em África, Rússia o pouco mais. Há jantares com os colegas de trabalho; o amigo secreto tornou-se obrigatório no escritório, na escola e entre amigos; milhares de doces enchem as vitrinas das pastelarias; a televisão repete programas à exaustão; na rádio a Mariah Carey marca o ponto; no cinema os filmes animados enchem metade do cartaz; e no teatro há espetáculos para todos os gostos. Eu ainda me lembro dos anos de 1990, com uma única sessão de cinema na RTP1 à tarde e uma grande estreia no dia 24 à noite e na passagem de ano; o natal dos hospitais era uma festa que colava milhões de pessoas ao ecrã à espera da atuação de Herman José. Um dos anos, o meu desejo era ter "A Minha Agenda RTP", um livro com os dias do ano, publicitado nos dois únicos canais de televisão da altura, e que tinha ilustrações e curiosidades. Como eu fiquei feliz com o presente! Delirei! Pode parecer uma prenda ridícula e um sonho parvo aos olhos dos nossos dias. Os meus pais nem eram pobres, só que o mundo era bem diferente: não havia telemóveis, nem computadores, nem internet, nem tv cabo, nem playstations, nem roupas de marca, nem dinheiro a rodos. O apelo ao consumo era moderado ou praticamente inexistente. Fico esmagado quando penso no contraste entre esse tempo e o hoje. E é nessa altura que me dá um baque de nostalgia que, penso, deve afetar grande parte das pessoas que me lê e que tem a minha idade, 39 anos. Mas quando olho à minha volta, parece que já ninguém se lembra de tudo isto. Estamos demasiado assoberbados com o presente e as preocupações contemporâneas que nem nos damos conta das diferenças e de que, mesmo nós, que vivemos a infância nos anos de 1980 e 1990, estamos agora viciados numa outra realidade. Dá a sensação que estou a trair as minhas raízes, o meu passado, a fugir da minha infância com vergonha, como que a repudiar um discurso que era tão típico dos nossos pais. "Sim, eu não vou massacrar os meus filhos com a minha conversa do antigamente, porque isso é simplesmente parvo". Porém, eu tenho orgulho e, admito, saudades da minha infância. Eu vivi num outro tempo, em que os escudos contavam-se aos centavos, havia contos e paus e gelados a 20 escudos (€0,10!). Desagrada-me o lixo que produzimos e a forma como estragamos o planeta com tanto plástico, brinquedos e gadgets eletrónicos que deitamos para o lixo todos os anos e que nascem de minérios extraídos do coração da terra. E assusta-me que ninguém faça nada. Parece que somos impotentes perante as grandes empresas, os canais de televisão, a publicidade que nos enche de desejos supérfluos. Por isso, o meu desejo, neste natal, é que páre um pouco. Que desligue a televisão, encha a casa de familiares, lhes diga que os ame, vá dar um passeio, e que esta quadra seja repleta de amor, carinho e afetos. Porque é isso que nos torna humanos e é isso que imortaliza as nossas vidas. Quero muito que haja amor na sua casa. Feliz natal.


It's amazing how Christmas has taken hold of our culture. What was a small Western religious tradition, it has become a huge event worldwide that few manage to escape, as some countries in the Middle East, Africa, Russia and little more. There are dinners with co-workers; the secret friend gift party became mandatory in the office, at school and among friends; thousands of candy fill the windows of pastries; television repeats the same Christmas programs to exhaustion; on the radio Mariah Carey marks the spot again and again; in theaters animated movies fill half of the poster; and there are Disney like shows everywhere. I still remember the 1990s, with just one film session on RTP1 TV in the afternoon and a great debut on the 24th and other one on New Year's Eve; Christmas at the Hospital was a TV show that glued millions of people to the screen waiting for the performance of Herman Jose.
One year, my Christmas wish was to have "My Diary RTP", a book year that was publicized in the only two TV channels that existed at the time, and had illustrations and curiosities for the 35 days of the year. And I was so happy when I received it! I was malveled! It may seem a ridiculous gift and a silly dream in the eyes of today kids. My parents were not even poor, but that the world was very different: there were no mobile phones, no computers, no internet or cable TV, or play stations, or branded clothes, no money in droves. The appeal to consumption was moderate or nonexistent. I'm overwhelmed when I think of the contrast between that time and today. And it is then that I get struck with a nostalgic thud that I think should affect most people who read me and that are around my age, 39 years old. But when I look around, it seems that no one remembers it at all. We are too overwhelmed with the present and contemporary concerns that we not realize the differences and that we even lived a different childhood in the 1980s and 1990s, and that we are now addicted in another reality. I feel that I am betraying my roots, my past, trying to flee from my own childhood, embarrassed, as if to repudiate a speech that was so typical of my parents. "Yes, I will not slaughter my children with my talk of the past, because that's just silly." However, I am proud and, I admit, I miss a lot all thohse days. I lived in another time, when the things where bought with pennies and ice cream could cost only $0.10!. It displeases me the garbage we produce and how we're all screwing up the planet with both plastic toys and electronic gadgets that we throw into the trash every year and that are built from minerals that are extracted from the heart of the earth. And it scares me that no one do anything. It seems that we are powerless from large companies, television stations, advertising that fills us with superfluous desires.
So my wish, this Christmas, is that you can pause a bit. Turn off the TV, fill your house with family and friends, tell them how much you love them, take a walk, and fill your holidays with love, care and affection. Because that's what makes us human and that's what immortalizes our lives. I really wish you a home full of love. Merry Christmas.

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