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Caminhada dura

Though journey








Foi para isto que vim à Madeira: aventura. E é isso que me espera nos seis quilómetros que me separam do pico Ruivo. Estou no miradouro do pico do Areeiro a ganhar coragem para enfrentar a enorme massa de nevoeiro que entope a vista a 1800 metros de altura. O que há para lá do branco das nuvens? O desconhecido. Para mim, pelo menos. Para o Aldónio, um amigo meu que aceitou acompanhar-me no passeio, aquilo já é conhecido: “É pena estar nublado porque a vista daqui é impressionante”. A previsão meteorológica na Madeira é sempre imprecisa. Lá em baixo está de certeza um dia abrasador, mas aqui parece inverno. Mal agasalhados, seguimos em frente: eu, a coitada da minha irmã (que só ainda tem 14 aninhos) e o meu amigo que fez este mesmo percurso uns anos antes. São pouco mais de dez horas numa manhã de agosto mas devem estar menos de 10ºC.  Esfregamos as mãos uma na outra, tiro o casaco para agasalhar a Marta e lá começamos a caminhada.
Depois de nos descolarmos da pousada do pico do Areeiro, a escassos metros existe o miradouro do ninho da Manta só que é impossível vislumbrar o quer que seja. Contornamos o pico das Torres por uma subida íngreme através de uma escadaria escavada na rocha e posteriormente uma descida. Devemos andar cerca de 500 metros, embora com a névoa cerrada à nossa volta perdemos a noção do espaço. Onde estivemos? Para onde vamos? Ninguém sabe.
Algum tempo depois desta verdadeira prova de esforço, deparamo-nos com uma descida exigente. Parece algo fácil, mas os degraus sucedem-se a um ritmo interminável. Perdi a conta a eles e só penso em alcançar o fim. O vento sopra forte nas encostas voltadas a norte e os 10ºC parecem agora menos 5ºC! O vento e as gotículas de água tornam maior a sensação de frio. Ao fim de meia hora estamos de cabelo molhado e pestanas humedecidas. As nossas vozes ecoam pelas paredes das montanhas. Somos só nós e a natureza.
Ao fim de uma hora, o meu receio de que este venha a ser um dia desolador acaba por desaparecer. Aos poucos, o nevoeiro dissipa-se e alguns raios de sol conseguem furar pelo manto branco circundante. Conseguimos vislumbrar os primeiros vales e a vista começa a encher a alma. Sem darmos por isso, a paisagem fica desimpedida. É emocionante a passagem sobre um dique basáltico que separa as cabeceiras das ribeiras da fajã da Nogueira e do Cidrão e a meio da viagem conseguimos vislumbrar o pico do Gato com os seus 1780 metros de altitude e escarpas a desafiar os alpinistas.
Um túnel, com cerca de 100 metros de comprimento e dois metros de altura, entra pelas entranhas daquela serra. À saída do túnel deparamo-nos com a cabeceira da ribeira da fajã da Nogueira e, mais a jusante, pode-se apreciar as achadas e os lombos de São Roque do Faial. Caminhar, em certos locais pode assustar tal é a pequenez do espaço que sobra para os pés. Há cordas e pontos de apoio, mas é necessário atenção redobrada. Curva após contra curva conseguimos avistar o pico Grande e, ao fim de algum tempo, vislumbramos, a oeste, as torres eólicas semeada ao longo do paúl da Serra.
Entretanto, surge-nos pela frente um segundo túnel, com cerca de 200 metros, o mais extenso dos cinco túneis deste percurso, que percorre as entranhas do pico das Torres. Ao penetrar no pico das Torres deixamos para trás a ribeira do Curral e, à saída, já com o céu praticamente limpo, está a ribeira Seca do Faial. A temperatura começa a subir e deixa de ser necessário ter casaco. Completamos o resto do percurso de maga curta. A mais difícil, aliás. A parte final da ida, antes de chegar à casa de abrigo, é sempre a subir, mas com o sol a atingir o seu auge, as paisagens brilham à nossa volta. Nas encostas a este ou a oeste vemos vales profundos e cumes deslumbrantes. O vale da ribeira Grande de São Jorge ou as achadas de Santana são dos locais mais belos da viagem. Perto da casa de abrigo do pico Ruivo encontra-se a vereda para a achada do Teixeira e é onde se encontra o "Homem em Pé", uma formação basáltica que se assemelha à forma de um homem em pé. O percurso, com cerca de três quilómetros, tem um piso bom e regular e não chega a uma hora de caminho. O problema é que é sempre a subir.
Nos troços com abismos, a vereda normalmente está protegida mas, por vezes, a varanda poderá encontrar-se destruída e não ter sido imediatamente reconstruída. O céu limpo permite também apreciar um pouco mais a fauna e flora. Há violetas da Madeira e muitas urzes. Consigo vislumbrar aqui e acolá algumas andorinhas da Serra. E à medida que nos aproximamos do fim, o engarrafamento de caminhantes é maior. Somos nós e algumas dezenas de pessoas com o mesmo a estafado, suado, cansado mas pasmado com as vistas. Forçamos o último troço até ao topo do pico Ruivo. Cada passo começa a ser uma tortura. Estamos há quase três horas a andar e eu só pensava no percurso de regresso. Todas as preocupações esfumam-se quando chegamos ao topo da serra. Quase dois quilómetros acima do nível do mar e o mundo a nossos pés. O mar, os vales, pequenas povoações e até o pico do Areeiro, a sul, que nos parece tão perto. “Estás a ver, Marta?”, digo apontando para o horizonte, “agora vamos ter que andar tudo para trás”. Eu acho, pelo olhar que ela me lançou, que não ficou lá muito contente.


This was the reason why I came to Madeira: adventure. And that's what awaits me in the six kilometers ahead. I'm on the lookout Pico do Areeiro to gain the courage to face the enormous mass of fog that clogs the view 6000 feet high. What's beyond the white clouds? The unknown. For me, at least. For Aldónio, a friend of mine who agreed to accompany me on this day journey, it’s nothing new: "It's a shame to be so cloudy because the view from here is impressive". The weather in Madeira is always unpredictable. Down the coast, it’s certainly a scorching day, but here it seems almost a winter day. There are hundreds of tourists who do this trip every day. Today it’s my turn, toghether with my poor sister (who his only 14 years old) and my friend who made this same trip a few years earlier. It’s 10 am in a August day but it must be less than 50 ° F. We rub our hands together, I take my coat to wrap Marta with and then we were ready to began our walk.
After we take off from Areeiro, a few meters ahead there’s Manta's Nest viewpoint, although it is impossible to glimpse anything at all. We skirted Pico das Torres up a steep climb through a staircase carved in the rock and then a descent. We must walk about 1600 feet, although with thick mist around us we lose track of space. Where have we been? Where are we going to? Nobody knows.
Sometime after this true stress test, we are faced with a demanding descent. Something seems easy but the steps succeeding to an endless rhythm. Lost count them and just think of reaching the end. The wind blows hard on the slopes facing north and 10 ° C seem now less 5 ° C! The wind and the water droplets turn the cold even more colder. After half an hour and our hair and eyelashes are wetted. Our voices is echoed off the mountains walls. It's just us and nature.
After an hour, my fear that this will be a disappointed day just disappear. Gradually, the fog dissipates and some sun rays pierce and illuminate the surrounding white robe. Gradually we can glimpse the first valleys and the full beauty of the landscape and the view begins to fill our eyes. Before you know it the air is clean again. It's exciting to pass over a basaltic dike that separates the headwaters of the streams of Fajã da Nogueira and Cidrão and, in the middle of the trip, we could glimpse the Pico do Gato at 5500 feet high and cliffs that challenge climbers.
A tunnel about 328 feet long and six feet high enters the bowels of the mountain. After leaving it we find the Fajã da Nogueira and the loins of São Roque do Faial. Some paths can be very narrow, which can scare a little bit. There are strings and support points, but there’s a need for extra attention. Curve after curve we find Pico Grande and, after some time, we glimpse, west, the wind towers sown over Paúl da Serra.
There’s second 650 feet long tunnel, the longest of the five tunnels this route, which runs through the bowels of the Pico das Torres. We leave behind Curral’s brook and, as we get out the tunnel, with mostly sunny sky, we view Seca do Faial’s brook. The temperature begins to rise and is no longer necessary the coat. We completed the rest of the journey suffocating with exhaustion. The final part of the trip it’s also the hardest, by the way. It's always up through harsh terrain, but we are surrounded with the most beautiful landscapes though. There are big slopes west, deep valleys and breathtaking summits at east. The valley of river Grande de São Jorge and Santana river are the most beautiful places of the trip.

Near the peak shelter, close do Achada do Teixeira there’s the Homem de Pé, or the standing man, a basalt formation which resembles the shape of a standing man. The route, about two miles long, has a nice, smooth surface and does not reach an hour walk. The problem is that it's always going up. There’s dangerous, although protected, sections of the road, some very destroyed which begs for some attention. The clear sky allows us to appreciate a little more fauna and flora. There are Violet Wood and many other plants and birds. And as we approach the end of the first part of the day, the bottling walkers is higher. Dozens of people with tired sweaty faces accumulates on the same narrow path, but we are all amazed with the views. We forced the last stretch to the top of the Pico Ruivo, each step feels like torture. We're nearly finishing a three hours walk and I start to think about the return journey. However, all the concerns disappear when we reached the top of the mountain. At 6500 feet above sea level we have the world at our feet. The sea, valleys, small villages and to the Pico do Areeiro, at south, where we started the day, seems so close. "You see there, Marta?", I say, pointing to the horizon, "now we have to walk all the way back". I think, by the look she gave me, that she was not very happy.

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