“Mas porque é que ele
é assim?” Esta é, talvez, uma das perguntas mais frequentes quando ralhamos com
os nossos filhos. Porque se deitou no chão a chorar; fez uma birra de sono;
ficou com cara de caso; bateu num colega sem razão aparente; e por aí fora. O
problema é sempre complexo e tem raízes profundas: a escola onde anda, os
amigos que tem, o que vê na televisão, o que ouve na rua, a educação dos pais,
claro, e, sobretudo, o que se passa no cérebro da criança. O progresso
científico nas neurociências está a desvendar alguns dos segredos da mente
humana e as descobertas podem ser uma preciosa ajuda na hora de determinar qual
o melhor passo a dar. Há cada vez mais investigadores a dar pistas e livros que
ajudam a encontrar respostas. “O Que se Passa na Cabeça do Meu Filho?”,da autoria de Cristina Valente, é uma dessas ferramentas que aqui aconselho.
Como o próprio subtítulo refere, este é um guia para entender os comportamentos
de oposição, decifrar silêncios e aprender a comunicar com jovens. “Os adultos
precisam de perceber que há competências cognitivas ausentes nos mais novos. A visão de um pai
para uma determinada situação é completamente diferente da de um filho ou filha”,
explicou-me a psicóloga numa entrevista que me concedeu recentemente. A
principal mensagem é deixar de lado os castigos e as ideias preconcebidas. “Educar
com base nos castigos e nas recompensas é perverso. Ele pressupõe uma
supervisão constante e ao fazê-lo estamos a criar um ‘animal treinado’. Se
quero educar um ser livre não posso dizer que há algo externo a avaliar o seu
desempenho”, avisou. “O dia tem 24 horas e dentro dele cabem inúmeros eventos,
positivos e negativos, e, na maioria das vezes, focamo-nos nas borradas que
eles fazem. Ora, no futuro, se ele ou ela quiser chamar a atenção sabe que ao
cometer o mesmo erro, poderá ser o centro das atenções”, advertiu. Numa
esplanada, em Oeiras, com o sol a bater-lhe no rosto, Cristina Valente sorri e
aponta o caminho. “Se ele ou ela recebeu uma negativa numa disciplina, pode-se
relativizar e dizer: ‘ok, tiveste uma má nota mas ao menos divertes-te com os
teus amigos? És feliz na escola? Achas que consegues melhorar?’ é uma forma de
olhar para o problema, de um prisma diferente”. E o primeiro passo,
disse-me ela, é falar sempre depois do evento. “Elas só apreendem a mensagem
quando as conseguimos acalmar. Depois, em vez de ralhar é preciso usar poucas
palavras e explicar as consequências dos seus atos. Isso tem melhor resultado a
longo prazo”, garantiu-me. O curioso do livro é que, feitas as contas, concluiu-se
que é na cabeça dos pais que está o problema. “Por exemplo, estamos numa
esplanada com amigos e os filhos estão ao nosso lado e queixamo-nos que não
temos dinheiro para nada. Ele vai assumir aquela mensagem de uma forma literal
e presumir que a família nem um cêntimo tem! É preciso ter cuidado com aquilo
que transmitimos. Porque é esta discrepância entre os cérebros dos adultos e das crianças que
explica as nossas guerras e angústias no dia a dia”, advertiu Cristina Valente.
E ela tem imensa razão! Eu acredito que precisamos de mudar a forma como
educamos os mais novos. Cometemos erros, muitas vezes, inconscientemente. O
mundo está a mudar à velocidade da luz! O cérebro é o resultado de uma
adaptação de milhões de anos, de tempos em que não existiam o facebook, a
internet, a televisão, os jogos de computador, entre outros. Por isso, acho que
perante uma sociedade em transformação constante é importante respirar fundo,
pensar e só depois agir. E para ajudar a raciocinar está aqui este livro da Cristina Valente. Ufa! Haja alguém que ajude, certo?
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