De certeza que já fez este simples exercício: tentar
descortinar a memória mais antiga que tem da sua vida. É muito difícil
lembrarmo-nos de um primeiro momento em específico. Há quem tenha a sorte de
ter uma excelente cabeça e consiga buscar à infância aquela que é a lembrança mais
ancestral. Infelizmente, não fui abonado com uma capacidade retrospetiva brutal
e tenho cada vez mais dificuldades em recuar aos meus primeiros anos de vida.
As fotografias ajudam imenso e dão-nos pistas para chegar até à revelação
final. Aqui, uma vez mais, tenho o azar de o meu manancial ser muito escasso. A
imagem que ilustra este post é a mais antiga de mim: eu ao colo dos meus pais, emigrantes
em França, de férias em Portugal. Era um dia sol, estava calor e o ar devia estar
impregnado dos cheiros de verão. O sítio ainda existe mas do meu momento nem um
nevoeiro resta. Tinha uns dois anos de idade. Talvez menos. Serei forçado a
perguntar à minha mãe o contexto da imagem e temo que se não anotar daqui a uns
anos a dificuldade de recordar seja ainda maior.
Eu lembro-me de algumas coisas de quando era muito pequeno. Com
quatro anos fiquei sozinho em casa durante umas horas e, desesperado, usei uma
cadeira para subir à fechadura da porta. Abri a porta e saí à rua para esperar pela
minha mãe. Houve também um dia em que andei da rua de mão dada com a minha,
enquanto ela um carrinho de bebé onde estava a minha irmã recém nascida. Ainda
hoje tenho imagens nítidas da casa do meu melhor amigo de infância e do quarto que
ele tinha só com brinquedos. Consigo desenhar facilmente a planta do pequeno
apartamento onde morávamos, em Paris. E ainda me lembro de brincar com a neve tendo
a Torre Eiffel como pano de fundo. Agarro-me a estas memórias com garras porque
não quero esquecer quem sou. Tenho medo de um dia não me lembrar mais de tudo
isto, de me comover com as minhas tristezas, alegrias e receios.
Não me peça para descrever o momento em que foi tirada a
fotografia deste post. Quem estava por trás da câmara? Desconheço. Em que dia
foi? Sei lá. O que tinha feito antes? O que fiz depois? Nada. Zero. Niente.
Rien. Apenas sei que tenho este pedaço de papel de cores esbatidas. Nele vejo o
sorriso dos meus pais ainda tão jovens; o prédio atrás como referência; o sol quente
de verão a pintar de luz o rosto da minha mãe; a roupa tão anos 1970; e o meu ar
feliz e inocente. É tudo o que tenho desta imagem. Ao menos tenho isso.
I'm sure
you've done this simple exercise: try to uncover the earliest memory of your
life. It is very hard to remind ourselves of a first specific time. Some have
been fortunate enough to have an excellent mind and can seek child recollections
in the easiest way. Unfortunately, I was not raised with brilliant
retrospective capacity and I have increasing difficulty in retreating to my
early years. Pictures help a lot and give us clues to get to the final
revelation. Here, again, I have the misfortune of my wealth be very minimal.
The image illustrating this post is the oldest one of me: I’m on the lap of my
parents, immigrants in France, in holiday in Portugal. It was clearly a sunny
day, it was hot I presume and the air must be imbued with the scents of summer
days. The site still exists but my memory of that moment remains deep hidden in
my brain. I was about two years old. Maybe less. I’m forced to ask my mother
the context of the image and I fear that if I do not write it down in a few
years the difficulty to remember is even greater.
I remember
a few things when I was very small. With four years old I was home alone for a
few hours and, desperate, used a chair to climb to lock the door. I opened it
and I went outside to wait for my mother. She was mad when she arrived. There
was also a day when I walked in hand with my mother on the streets as she carried
my sister born recently. I still have vivid images of the house of my best
childhood friend and his toys room. I can easily draw the small apartment plant
where we lived in Paris. And I still remember playing with snow with the Eiffel
Tower as a backdrop. I cling to these memories with claws because they I do not
want to forget them and who I am. I'm afraid one day not remember most of all
this, to be moved by my sorrows, joys and fears.
Do not ask
me to describe the moment when the photograph of this post was taken. Who was
behind the camera? I’m unaware. What day was it? I do not know. What I had done
before? What I did after? Anything. Zero. Niente. Rien. I just I know that I
have this piece of paper with faded colors. In it I see the smile of my parents
still so young; the building behind as a reference; the hot summer sun light to
paint my mothers face; that clothing so 1970s; and my happy and innocent look.
It's all I have from this image. At least have something.
Sem comentários :
Enviar um comentário